Na busca pela compreensão das possíveis associações entre o uso de medicamentos anticolinérgicos e o declínio cognitivo em idosos, a evidência atual apresenta um quadro complexo e desafiador. Aqui, resumimos os principais insights a partir das fontes mais recentes:
Efeitos a Curto Prazo: Estudos indicam que o uso a curto prazo de certas classes de medicamentos, como benzodiazepínicos, anticolinérgicos, antihistamínicos de 1ª geração e opioides, pode estar associado ao comprometimento cognitivo em idosos. Inicialmente, acreditava-se que esses efeitos fossem transitórios e reversíveis.
Relação Dose-Resposta: Vários estudos observaram uma relação dose-resposta entre o uso desses medicamentos e o desenvolvimento de demência e doença de Alzheimer. Mesmo após ajustes para fatores de confusão, essa associação persistiu, sugerindo que os efeitos adversos na cognição podem não ser totalmente reversíveis em alguns pacientes.
Uso a Longo Prazo – Incerteza Persiste: A questão do uso a longo prazo de medicamentos, como benzodiazepínicos, permanece incerta. Dados conflitantes em estudos dificultam a interpretação. A complexidade aumenta devido ao fato de que esses medicamentos são frequentemente prescritos para tratar sintomas como insônia e ansiedade, que podem ser sintomas iniciais da demência.
Evidência Mais Sólida para Anticolinérgicos: Há um argumento mais robusto em relação aos anticolinérgicos. Isso se baseia em fundamentos fisiológicos, considerando a importância das deficiências colinérgicas na doença de Alzheimer. Portanto, a evidência sugere que esses medicamentos podem aumentar o risco de efeitos cognitivos irreversíveis.
Revisão da Cochrane de 2021: Uma revisão sistemática da Cochrane realizada em 2021, incluindo 8 estudos com mais de 300 mil participantes, sem comprometimento cognitivo, analisou a associação entre anticolinérgicos e declínio cognitivo em idosos com um seguimento mínimo de um ano. Os resultados sugerem que o uso desses medicamentos está, de fato, associado a um maior risco de declínio cognitivo ou demência. No entanto, a certeza dessas evidências é considerada baixa, exigindo mais pesquisas para compreender completamente essa relação.
Em resumo:
Evidências sugerem que o uso de medicamentos anticolinérgicos em idosos pode estar relacionado a um maior risco de declínio cognitivo ou demência. No entanto, a incerteza persiste, principalmente quanto ao uso a longo prazo, especialmente no caso dos benzodiazepínicos. Os médicos devem considerar alternativas quando apropriado e pesar cuidadosamente os riscos e benefícios ao prescrever medicamentos anticolinérgicos a pacientes idosos, mantendo-se atualizados com as últimas pesquisas e diretrizes clínicas. Mais estudos são necessários para esclarecer essa associação e entender melhor a relação entre medicamentos anticolinérgicos e problemas cognitivos em idosos.
Referências:
1- Taylor-Rowan M, Edwards S, Noel-Storr AH, McCleery J, Myint PK, Soiza R, Stewart C, Loke YK, Quinn TJ. Anticholinergic burden(prognostic factor) for prediction of dementia or cognitive decline in older adults with no known cognitive syndrome. Cochrane Databaseof Systematic Reviews 2021, Issue 5. Art. No.: CD013540. DOI: 10.1002/14651858.CD013540.pub2.
2- Larson, E. B. (2019). Risk factors for cognitive decline and dementia. UpToDate. Acesso em 07 de outubro de 2023: https://www.uptodate.com/contents/risk-factors-for-cognitive-decline-and-dementia