Chegamos à segunda parte deste artigo, se você não viu a primeira parte, confira aqui. Após definir o que é funcionalidade, sua importância e como avaliar as Atividades Básicas da Vida Diária (ABVDs), falaremos sobre as Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVDs).
Para uma vida independente e ativa na comunidade, executando as atividades rotineiras do dia a dia, o idoso deve usar os recursos disponíveis no meio ambiente. O conjunto dessas atividades foi denominado AIVD. Estão relacionadas com a realização de tarefas mais complexas, como arrumar a casa, telefonar, viajar, fazer compras, preparar os alimentos, controlar e tomar os remédios e administrar as finanças. De acordo com a capacidade de realizar essas atividades, é possível determinar se o indivíduo pode ou não viver sozinho sem supervisão.
A escala de Lawton & Brody é uma das mais utilizadas em nosso meio e foi desenvolvida em 1969. Ela avalia sete atividades instrumentais: usar o telefone, locomoção com meios de transporte, fazer compras, realizar trabalhos domésticos, preparo de refeições, uso de medicação e administração das finanças. As perguntas devem ser direcionadas ao acompanhante, caso o idoso apresente algum déficit cognitivo ou esteja em investigação para demência.
A pontuação de cada item varia entre 1 e 3. A de pontuação 3 indica que o paciente está numa condição de independência; a pontuação 2 indica uma situação de semi dependência, onde o paciente necessita de ajuda parcial para determinadas atividades, e a pontuação 1 indica a existência de total dependência. Em algumas circunstâncias deve ser relevada a incapacidade de uma pessoa realizar tarefas para as quais não tenha habilidade, como cozinhar, por exemplo.
Fazer uma tabela própria semelhante à de acima
Outra escala também igualmente utilizada para avaliação de AIVDs é o Questionário de Pfeffer. Criado em 1982, comparou idosos sadios com os que possuíam déficit cognitivo e é amplamente utilizado nos estudos brasileiros envolvendo a população com demência; por isso, tem grande aplicabilidade neste contexto.
O questionário avalia o desempenho em AIVDs que envolvem também habilidades cognitivas: controlar as próprias finanças, fazer compras, esquentar água e apagar o fogo, preparar refeições, manter-se atualizado, prestar atenção em uma notícia e discuti-la, lembrar-se de compromissos, cuidar da própria medicação, manter-se orientado ao andar
pela vizinhança, cumprimentar seus amigos adequadamente e ficar sozinho em casa.
Tais atividades são mais complexas do que aquelas avaliadas pela escala criada por Lawton e Brody, o que torna o questionário de Pfeffer uma ferramenta diagnóstica para distinguir indivíduos com o envelhecimento típico daqueles com demência por meio de um melhor balanço entre sensibilidade e especificidade (0,85 e 0,81, respectivamente) quando comparada com a Escala de Lawton e Brody (0,57 e 0,92, respectivamente) (Pfeffer et al., 1982)
Questionário de Pfeffer (Tratado Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, 4a ed)
A pontuação em cada item varia entre 0 – sim, é capaz; 0 – nunca o fez, mas poderia fazer agora; 1 – com alguma dificuldade, mas faz; 1 – nunca fez, e teria dificuldade agora; 2 – necessita de ajuda; 3 – não é capaz. Interpretação: < 6 pontos – normal; ≥ 6 pontos – comprometido.
No terceiro e último post veremos sobre as Atividades Avançadas da Vida Diária e a importância dela para detecção precoce de declínio funcional.
Até mais!
Referências
- Freitas, Elizabete Viana de Tratado de geriatria e gerontologia / Elizabete Viana de Freitas, Ligia Py. – 5. ed. – Rio de Janeiro :Guanabara Koogan, 2022.
- Pfeffer RI, Kurosaki TT, Harrah CH Jr, Chance JM, Filos S. Measurement of functional activities in older adults in the community. J Gerontol. 1982;37(3):323-329. doi:10.1093/geronj/37.3.323
- Lawton MP, Brody EM. Assessment of older people: self-maintaining and instrumental activities of daily living. Gerontologist. 1969;9(3):179-186.